Breve: Louva-a-deus, um inseto mal compreendido

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carta ao Município de Medianeira

Medianeira, à Rua Santa Catarina, nº 1999, aos 5 de maio de 2011

Até ontem, eu gostava muito de chegar de manhã ao meu trabalho. Era um local acolhedor, arejado, bons colegas, um trabalho digno conquistado após fadigosa preparação e prestação de concurso público. Os bons colegas e a dignidade do trabalho continuam, mas o ambiente mudou...
O local tem uma ampla janela no segundo piso, e periodicamente a gente podia esticar os músculos na sacada do prédio, ver um pouco do movimento da rua, pegar uma réstia de sol que teimava em trespassar a densa ramagem das árvores onde os passarinhos vinham a cada poucos minutos trazer comida aos filh... ah, fodam-se os pássaros, eles cagam!
Hoje, na calada da madrugada, eles foram acordados pelo áspero e cavernoso ronco das motosserras, pouco antes de sucumbirem no asfalto. As enormes árvores tombaram.
Ficou bonito sem as folhas atrapalhando...
Hoje o ambiente de trabalho não é arejado, pois as cortinas devem ficar fechadas. Uma sensação de clausura paira no ar. O sol é forte, e não vou à sacada para tomar ar fresco. Quem sabe amanhã, se eu lebrar de trazer meus óculos escuros e aplicar protetor solar. Mas ir à sacada para quê, afinal? As pessoas não passam mais tranquilamente na calçada, não olham mais para cima para dizer olá. Quem estaciona, sai do carro com pressa por causa do sol, o para-peito é quente e os passarinhos sumiram.
Até o barulho dos motores é maior, principalmente dos velhos ônibus verdes com a escrita "escolar". A fuligem da sua fumaça sobe e vem direto na nossa cara.
Não é só a sombra da árvore que traz benesses, é a sua presença, sua energia repleta de paz. Em seus galhos mais altos o mundo sussurra. Suas raízes descansam no infinito. Elas fazem falta. Seu desaparecimento tão repentino traz uma sensação de... velório. Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore.
As árvores são santuários. Quem sabe como falar com elas, e quem saber ouvi-las, pode aprender a verdade. Elas não pregam a aprendizagem ou preceitos. Elas pregam, sem se abalar, a antiga lei da vida.
Mas quem fez o famigerado trabalho? O corte foi solicitado ao Poder Público. Alguém lá do Poder Público nos falou que não havia possibilidade de autorizar tal barbárie. Um "terceirizado" derrubou, picou e carregou a lenha, os funcionários da prefeitura trituraram os galhos finos, as folhas e os filhotes dos columbiformes.
Mas e os motivos do crime? Há motivos, sim. Plausíveis, não!
Uma sobrou pela "poda (i)racional"
As versões:
A versão do Poder Público: "nós só autorizamos a poda";
A versão do proprietário: "eu só pedi pra podar um pouco os galhos perto da parede, foi o terceirizado que derrubou tudo";
A versão dos servidores da prefeitura: "o terceirizado que cortou, nós só estamos triturando as folhas e e os passarinhos";
A versão do terceirizado: "me mandaram cortar, o meu pagamento é a lenha, quanto mais der, melhor pra mim";
A versão da mulher do proprietário: "fui eu que plantei";


A versão da árvore: "lutei com toda a força de minha vida para uma única coisa: realizar-me de acordo com minhas próprias leis, para construir a minha própria forma e servir a todos os seres que necessitassem. Fui cortada mas revelo a minha morte ferida nua para o Sol, pode-se ler a minha história inteira no disco luminoso, inscrito em meu tronco: nos anéis das minhas três décadas, minhas cicatrizes, toda a minha luta, todo o meu sofrimento, todas as minhas doenças, toda a minha felicidade e prosperidade estão realmente escritas, os anos difíceis e os anos de luxo, os ataques resistidos, as tempestades vencidas. Eu fui a vida da vida eterna. A tentativa e o risco que a mãe eterna tomou comigo era único, exclusivas as formas e as veias da minha pele, única a menor das folhas em meus galhos e a menor cicatriz da minha casca. Eu fui criada para formar e revelar o eterno em cada um dos meus pequenos detalhes. Minha força era a confiança. Não sei nada sobre meus pais, eu não sei nada sobre os filhotes que a cada primavera nasciam de mim. Eu vivi o segredo da minha semente até o fim, e eu não me importo com nada além disso. Eu penso que o meu trabalho era sagrado. É dessa confiança que eu vivia. Quando eu via um homem ferido, não podendo mais suportar sua vida, então eu dizia a ele: atenção! Atenção! Olhe para mim! A vida não é fácil, a vida não é difícil. Esses são pensamentos infantis."
A ferida exposta que conta a história
Hermann Hesse escreveu: "a árvore sussurra à noite, quando estamos inquietos diante dos nossos próprios pensamentos infantis: árvores têm pensamentos longos, uma respiração longa e tranquila, assim como elas têm uma vida mais longa que a nossa. Elas são mais sábias do que nós, enquanto nós não as ouvirmos. Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, a brevidade e a rapidez e a pressa infantil de nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável. Quem aprendeu a escutar as árvores já não quer ser uma árvore. Ele não quer ser nada, exceto o que ele é. Isso é estar em casa. Isso é a felicidade.

Ricardo Alexius

Protocolado no Município de Medianeira
nº 2011/5/2725
em 06/05/2011
Assunto : 26 MEIO AMBIENTE

4 comentários:

  1. É uma vergonha uma cidade como a nossa falarmos de dengue, mais vergonhoso ainda é o pensamento de certas pessoas em função da natureza de não saber o minimo da importancia de uma arvore. já acabarão com as arvores da av brasilia agora com as das paralelas. jente que é da alta sociedade mas que não tem conciencia nem uma (será falta de conhecimento, ou falta de humildade.. obrigado "Alexandre Lodi Rissini"

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  2. ESSE PREFEITO E VICE SÃO MUITO, MAS MUITO INCOMPETENTES, ATÉ MEU PAPAGAIO GOVERNA MELHOR MEDIANEIRA, PENA QUE O TEMPO DEMORA A PASSAR PRA ESSES TRAPALHÕES LARGAREM A PREFEITURA E NUNCA MAIS VOLTAR.

    PAGAMOS PELA BURRICE DE NOSSOS GOVERNANTES.

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  3. Cidade Sem Lei!
    Para chegar la pagamos o maior Pedágio do Brasil em média 9,00 reais enquanto em SC 1,40. Agora esta se tornando um deserto.

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  4. RICARDO,

    sou seu seguidor e convido para conhecer o nosso novo blog, o sexto em dez anos de blogosfera, o titulo é:MULHER BURRA NÃO SEGURA HOMEM.
    O link é http://paulotamburropaulo.blogspot.com.br/ (COPIE E COLE)
    Participe e entenda as razões do blog.
    Espero por você .
    Um abração carioca.

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