Breve: Louva-a-deus, um inseto mal compreendido

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Quando o alimento mata

A recente morte de 31 pessoas na Europa, através da contaminação de uma variante da bactéria Escherichia coli, além de causar o esperado alvoroço, trouxe novamente à tona calorosos debates a respeito da Segurança Alimentar no planeta. Em interessante artigo do The New York Times, “Quando o alimento mata”, o jornalista Nicholas D. Kristof diz que não deveríamos estar tão surpresos, pois a comida pode nos trair.
Este sôfrego blogueiro procura escrever neste espaço um texto baseado em tradução do referido artigo e notícias ligadas ao fato, porém sem as omissões que o PIG* fez no Brasil (veja detalhes no final do artigo).
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Cerca de 325 mil pessoas são hospitalizadas todos os anos nos Estados Unidos por causa de doenças relacionadas aos alimentos. E cinco mil delas acabam morrendo. A comida mata uma pessoa a cada duas horas. Nós temos uma indústria que produz alimentos baratos, mas lobistas bloqueiam iniciativas de torná-los mais seguros.
Escherichia coli
Há poucos dias, uma menina de dois anos morreu em Dryden, na Virgínia, depois de ser hospitalizada com diarreia sanguinolenta por causa de uma nova cepa de E. coli. Seu irmão também foi hospitalizado mas sobreviveu.
Embora os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 terem transformado a forma dos Estados Unidos abordar a segurança nacional, o dobro de pessoas morrem a cada ano de problemas com alimentos e não se gerou ainda uma iniciativa mais efetiva quanto à segurança alimentar. Temos a hegemonia de um sistema agroindustrial visando produzir alimentos mais baratos, mas o lobby de grupos dominantes não permite iniciativas que visem alimentos mais seguros.
Administração de antibióticos
Talvez o mais vergonhoso desse nosso modelo agrícola é a forma como os antibióticos são irresponsavelmente injetados em animais saudáveis para fazê-los crescer rapidamente.
O FDA (Food and Drug Administration), órgão norte-americano que regulamenta medicamentos e alimentos, revela que 80% dos antibióticos no país são consumidos pelos animais, e não pelos humanos. É sabido que 90% dos antibióticos veterinários são administrados via alimento e água dos animais. Administradas a animais saudáveis, para mantê-los longe da iminente agressão causada pelo estresse e condições promíscuas das miseráveis instalações dos confinamentos.
Somente o estado da Carolina do Norte usa mais antibióticos em animais do que consome a população inteira dos Estados Unidos.
A administração de sub-doses de antibióticos, por exemplo, cria um campo propício ao desenvolvimento de resistência destas bactéria, gerando super patógenos. O resultado é que doenças corriqueiras podem se tornar intratáveis.
A Sociedade Americana de Infectologia, organização profissional de médicos, cita o caso do instrutor de surf do Colorado Josh Nahum, 27 anos, que desenvolveu uma febre oriunda da infecção por bactérias que não respondem aos medicamentos. A disseminação da infecção causou enorme pressão no seu crânio. Parte do seu conteúdo cerebral foi “empurrado” para dentro da coluna vertebral. Ele ficou tetraplégico, dependendo de aparelhos para respirar. Morreu duas semanas mais tarde.
Não há razão, a princípio, para ligação entre o caso Nahum especificamente com as overdoses de antibióticos na pecuária. A resistência a antibióticos tem múltiplas causas. Médicos prescrevem sub ou superdoses. Pacientes desviam receituários e não seguem recomendações. Mas verificando números, de longe é a agricultura o maior elemento de uso excessivo.
Não queríamos nunca imaginar que, para manter nossos filhos saudáveis, passemos a colocar antibióticos na rede de água de beber das escolas, porque sabemos que isso vai gerar variantes resistentes de bactérias. Então, é inconcebível que grandes empresas façam algo semelhante com animais!
Louise Slaughter, deputada e única representante da classe dos microbiologistas na Câmara Federal norte-americana, tem travado uma solitária e dramática batalha contra esta prática, mas os interesses da agricultura industrial sempre bloquearam a legislação por ela proposta.
Confinamentos insalubres: predisposição a doenças
Ela diz que “as estatísticas comprovam o histórico abuso desenfreado das indústrias no uso de antibióticos, na tentativa de encobrir a sujeira das instalações e de vida insalubre dos pobres animais. Utilizando antibióticos no alimento dos animais para prevenir doenças, estão tornando nossas famílias cada vez mais doentes, por difundir cepas mortais de bactérias resistentes”, diz ela.
Vegetarianos podem pensar que estão imunes, mas não é real. E. coli tem origem em animais, mas pode estar presente na água utilizada para irrigar produtos hortícolas, contaminando-os. O surto na Comunidade Europeia aparentemente se originou em brotos de feijão cultivados em uma fazenda na Alemanha, o que não foi comprovado.
O MRSA é um Staphylococcus aureus
Um dos patógenos mais comuns resistente aos antibióticos é o MRSA, que hoje mata mais norte-americanos do que a AIDS e onera grandiosamente os custos da saúde pública. O MRSA é um Staphylococcus aureus e tem muitas variantes. Uma das formas menos agressivas é atualmente muito difundida nas propriedades rurais entre as pessoas que lidam com porcos. Um artigo deste ano em uma revista chamada Microbiologia Aplicada e Ambiental divulga que o MRSA foi encontrado em 70 por cento dos porcos em uma fazenda.
Outra revista científica diz que o MRSA foi encontrado em 45 por cento dos trabalhadores em uma exportadora de milho. O Centro de Controle de Doenças divulgou dados no último mês de abril que acusavam a presença deste S. aureus em um trabalhador de uma creche em Iowa.
Portanto, é muito difícil e muito... digamos... comprometedor alguém dizer na imprensa que o agente causador do passamento de tantas pessoas tenha se originado em Sodoma ou em Gomorra.
Senão vejamos: na matéria a que estamos nos referindo, tem um link que envia para outra, dizendo que “as mortes por E. Coli se elevam a 31”, e lá diz que as pessoas afetadas que sobreviveram foram questionadas sobre o que comeram antes de passarem mal, em que restaurante, que prato pediram, etc. Os cozinheiros foram indagados sobre quais os ingredientes que fazem parte do cardápio, e qual o procedimento para a preparação do prato. Convenhamos que este rastreamento é complicado. Há restaurantes na Alemanha que usam tomates e kiwis de Portugal, cenouras e laranjas dos Estados Unidos, feijão e brotos de alfafa do Sudão, quiabos do Afeganistão, soja, frangos, porcos e embutidos do Brasil. Pois sim, o que foi que levou a Escherichia coli para as entranhas destes consumidores?
De alguma forma, o lobby dos poderosos já lançou a notícia (suposição) de que a bactéria havia surgido numa pequena propriedade orgânica da Alemanha. Claro, a imprensa não iria ousar supor que a mazela teria vindo de um tofu, de um frango ou de uma mortadela produzida por uma empresa de renome internacional, potencial patrocinadora de suas falácias.
O próprio governo alemão precisa tomar cuidado com o que diz. O simples fato de mencionar que a origem da causadora das mortes poderia ser a Espanha, fez com que o governo hispânico entrasse com um processo de indenização de 600 milhões de Euros pela diminuição das exportações.
Touro musculoso: exageros
O surto na Europa deve acordar a população. Segundo Robert Martin, do Pew Environment Group, “o acontecimento aponta para todo um sistema quebrado de produção agrícola.”
De acordo com Kristof, “precisamos mais inspeções completas no sistema alimentar, mais testes adicionais de cepas de E. coli, e mais educação pública (sempre lavar as mãos depois de tocar carne crua, e não utilizar a mesma faca para cortar carne e legumes sem lavá-la bem). Um excelente início para iniciar as reformas seria através da proibição da alimentação de antibióticos para animais saudáveis.
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Se o leitor gosta de averiguar e confirmar informações, aproveite para ver o que o PIG* brasileiro faz com as notícias internacionais. A Revista Globo Rural fez uma matéria baseada no mesmo artigo de Kristof. Leia e observe os importantes pontos que foram inescrupulosamente omitidos, cuidado este tomado para não prejudicar as transnacionais patrocinadoras do aparato comercial da grande mídia. Até nomes próprios são modificados para que você não possa pesquisá-los corretamente.

*PIG: Partido da Imprensa Golpista

Fontes: links no corpo do texto.

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