Breve: Louva-a-deus, um inseto mal compreendido

terça-feira, 5 de abril de 2011

É mais fácil culpar a Natureza

Ricardo Alexius
Antes do homem existir, já era verão nos trópicos. A novidade nessa roda do tempo é a ocupação desordenada das serras e das planícies nas regiões metropolitanas. A urbe se expandiu aprisionando e desprezando a natureza. O temporal desse período é que tem provocado hecatombes.
A gravidade da situação no Rio de Janeiro nunca havia atingido tais proporções. Há muitos mortos e milhares de desabrigados. O cenário é de destruição.
Não há como culpar a Natureza! Estamos diante de crimes cometidos pelo homem, a começar por prefeitos e ex-prefeitos que fazem vista-grossa ou se entregam à corrupção para permitir aos abastados a construção e o desmatamento nas encostas. Um ex-prefeito de Nova Friburgo morreu com seu filho. Azevedo e o filho estavam em um sítio atingido pelas fortes chuvas. A residência foi soterrada por pedras e lama. A Natureza é culpada por essas mortes também?
Estamos presenciando um padrão de incompetência e de olvido da questão técnica fundamental que diz respeito ao século 21, que é a questão ambiental.
Nascentes e águas foram soterradas para construir grandes cidades, onde a impermeabilização do solo ocorre sem critérios. E agora o desmatamento também já é questão crucial na ocupação do campo. O grande trator do agronegócio está deixando seu rastro de mudança climática e destruição.
Esta estória de que o Brasil é o grande centro de produção e que deve produzir commodityes para todos, e que se não ocuparmos nossas florestas haverá um grande prejuízo para mundo, é a chacota proferida pelas transnacionais no afã de conferir estrondosos lucros.
Está aí o resultado.
O Brasil continua a ser o único grande país do mundo ocidental a se recusar a uma reforma agrária de verdade e onde os setores mais reacionários, apoiados pela grande mídia, tentam criminalizar quem luta por ela. O resultado de um modelo concentrador de terras e renda, que passou diretamente das sesmarias aos latifúndios do agronegócio (do Pau-Brasil à soja) é a promoção de um massivo e criminoso êxodo rural, comprovado pelo último censo que atesta 80% da população concentrada em áreas urbanas.
Além da óbvia pressão sobre os serviços básicos, o resultado deste modelo aliado ao descumprimento das leis ambientais e de planejamento urbano pelos governos e pela sociedade leva os mais pobres (mas também a classe média e até ricos) a ocuparem áreas de preservação permanente (encostas e várzeas). Depois, sem querer questionar o óbvio (que neste caso está longe de ser ululante, como a maior parte das verdades) reduz-se tudo à fúria da Natureza e à incompetência dos governantes com medidas de prevenção.
E se depender dos representantes do latifúndio, que continuam sendo a maior bancada do Congresso Nacional, vem mais desgraça por aí, pois eles já estão conseguindo aprovar a reforma do Código Florestal, permitindo que sejam destruídas maiores áreas, incluindo as beiras de rios.
Ou seja, para os latifundiários e imobiliários interessa plantar ou edificar até onde possam lucrar, não importa que isto leve a repetidas tragédias. O lucro está acima de tudo. E todos os anos, enquanto este modelo for dominante, sempre teremos muito a sofrer e a lamentar.
A reforma agrária não é uma questão ideológica, mas de calamidade pública. O Brasil precisa de um zoneamento ambiental urgente, que ordene a política de ocupação. Com uma produção agrícola ordenada, o país não teria desperdícios, e a sua abundante produção de alimentos (comprovadamente suficiente) seria devidamente distribuída.

Artigo publicado no Jornal O Paraná de 21/01/2011 pág. 2
e no Jornal Folha de Londrina de 24/01/2011 http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--5352-20110124

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